sexta-feira, 20 de julho de 2012

Zezinho e o Carma- Por André Cozta




Zezinho era zeloso por demais com suas obrigações enquanto médium de Umbanda e também com os graus de Magia Divina nos quais era iniciado.
Procurava sempre contribuir da melhor forma com o terreiro onde desenvolvia, trabalhava e cumpria sua missão mediúnica. Em seus atendimentos às pessoas na Magia Divina, tanto nos trabalhos neste sentido que eram realizados no terreiro, quanto em atendimentos particulares, seguia esta mesma linha de raciocínio e atitude.
Porém, nos últimos tempos, andava “encucado” com algumas coisas que não conseguia compreender. Não conseguia entender por que, em alguns casos, o auxílio caritativo religioso ou magístico não alcançava o pleno objetivo por ele traçado naquele atendimento.
E isso já o incomodava por demais.
Certa noite, seu Mestre de Magia levou-o para um passeio esclarecedor.
E, num “sonho”,  viu-se em um campo muito florido, onde caminhava ao lado do seu Mestre, rumo à uma mata belíssima, onde as folhas mostravam aos seus olhos um verde inigualável, como nunca visto por ele no plano material. Era um verde-luz emanado por aqueles vegetais. As flores, à sua volta, transmitiam um odor que entrava por suas narinas como um “cheiro indefinível” e saíam por sua boca como um doce néctar divino.
Por um instante fechou os olhos, a fim de absorver todas aquelas irradiações divinas. Quando os abriu novamente, seu Mestre lhe falou:
- Tudo o que está experimentando aqui, nada mais é do que a manifestação do Criador através da Sua Criação. Esta beleza que encanta seus olhos, o inebria, este odor que pode sentir e este doce néctar que pode provar, só consegue fazer aqui, neste plano mais elevado da vida humana, por estar momentaneamente livre da carne. Porém, lá no plano material, onde vive, ainda assim, se despir-se de certos sentimentos antagônicos a esta sensação que aqui pode provar, de algum modo, conseguirá ter estas maravilhas que aqui experimenta. Basta voltar-se para Deus, através da Sua manifestação mias bela, que é a Natureza ao seu redor.
Zezinho ouviu aquilo tudo com calma e atenção e, como um mago e médium dedicado, procurou absorver aqueles ensinamentos passados por seu Mestre.
Caminharam um pouco mais e, rapidamente, adentraram a mata. Seu Mestre tomou a frente, fazendo as devidas apresentações ao Guardião do Local. E, logo em seguida, encontraram uma Cabocla que os aguardava de braços abertos e com um largo sorriso estampando seu rosto.
Aquela Cabocla, de longos cabelos negros, carregava às costas uma bolsa contendo 5 flechas, um arco atravessando o peito desnudo, uma machada de pedra em sua cintura, ao lado direito. Seu corpo era protegido apenas por um “pedaço de pano” verde entre a cintura e as coxas.
Ela abraçou demoradamente a cada um deles.
Em seguida, caminharam mais alguns metros à frente, conduzidos por ela, chegando à uma cachoeira.
Aqui, não citaremos os nomes da Cabocla e do Mestre de Zezinho, para que não desviemos a atenção do objetivo principal deste relato, que é de esclarecimento. Até por que este tipo de encontro “descortinador” acontece comumente e frequentemente entre Mestres, Guias Espirituais e tutelados encarnados.
A Cabocla e o Mestre ajoelharam-se à frente da cachoeira, saudando os Sagrados Orixás daquele santuário natural. E  Zezinho seguia fidedignamente todos os seus movimentos.
Após as orações, a Cabocla, sempre sorridente, voltou-se para Zezinho e falou:
- É uma honra tê-lo aqui, meu filho! Tenho percebido o quanto é zeloso para com seu trabalho, às vezes cioso demais, um tanto ciumento, mas, acima de tudo, um médium e um mago dedicado, um ser humano que busca sempre a trilha correta na sua senda evolutiva. E foi por isso que o seu Mestre de Magia resolveu trazê-lo aqui, mediante os Senhores do Amor e do Conhecimento (a Divina Mãe Oxum e o Divino Pai Oxossi), para que você saia daqui sabendo, finalmente, as respostas dos questionamentos que tanto lhe intrigam neste momento.
O Mestre de Magia, em seguida, falou;
-  Você tem estado muito ansioso por conta de trabalhos magísticos e até religiosos que não alcançam o resultado que você gostaria. Primeiramente, é necessário que você entenda que, no caso da religião umbandista, você é um mediador entre os dois planos (espiritual e material) ,permitindo que os agentes da Lei Maior que vivem no plano espiritual atuem em benefício daqueles que vivem no plano material. E, como agentes da Lei, em hipótese alguma, atuarão contra ela ou contradizendo-a. Assim como você, em seus trabalhos de Magia Divina, orientado por mim, é também um agente encarnado da Lei de Deus. Então, não agirã ou atuará contra a Lei.
Zezinho, intrigado, perguntou:
- Mas, em algum momento, nos meus trabalhos de Magia Divina ou no trabalho mediúnico de Umbanda, agi contra a Lei?
A Cabocla, imediatamente, respondeu:
- Graças ao seu esclarecimento e todo amparo Divino e espiritual que possui, meu filho, você nunca fez isto! Mas, saiba que está aqui neste momento para compreender melhor isso tudo. Por que, em alguns casos, o carma das pessoas não permite que  você solucione seus problemas.
Zezinho olhava-a com curiosidade, típica de seu modo expansivo de ser. Era um ser humano irradiado pelo Conhecimento, um filho do Sagrado Pai Oxossi.
Ela prosseguiu falando;
- Meu filho, o carma é um recurso divino que permite ao ser humano corrigir,  por si só, seus erros. Entenda: Deus, nosso Pai Criador, deseja que todos nós sejamos independentes, pois, só assim realmente evoluiremos, ascenderemos e retornaremos à Ele manifestando-O naturalmente. Por isso, deu a nós, humanos, o livre arbítrio. Com ele, podemos escolher o melhor caminho para seguirmos em nossas jornadas rumo ao único objetivo que todos temos intimamente (mesmo que adormecido em alguns casos), que é o de retornar à morada do Pai.  Quando, usando de nosso livre arbítrio, escolhemos caminhos floridos como o que o trouxe até aqui, tudo se torna muito simples, meu filho! Mas, quando a senda escolhida é “lamacenta”, aí, então, cada passo demora uma eternidade. Afinal, caminhar na lama, nós todos sabemos, é uma tarefa muito árdua, não é mesmo?
Zezinho sacudiu a cabeça afirmativamente, com braços cruzados e mão direita ao queixo, manteve-se atento aos ensinamentos daquela Mestra da Luz.
-  E você precisa saber (e saberá assim que “acordar”) que este nosso encontro hoje está ocorrendo para esclarecê-lo neste sentido, para que suas dúvidas e questionamentos não afetem seu trabalhos magísticos e religiosos, que têm ocorrido tão bem e vistos positivamente pelos Sagrados Orixás.
O Mestre tomou a palavra;
- Então, meu caro amigo, saiba que muitas vezes, surge em seu caminho, alguém ansiando por soluções para seus problemas que são, na verdade, questões cármicas e que só poderão ser resolvidas com a reforma íntima daquela pessoa. Com humildade, voltando-se para o seu interior, reconhecendo-se como um ser em evolução, por demais devedor. Possuidor de débitos contraídos e acumulados por ela mesma ao longo dos tempos.
A Cabocla, sorrindo, falou:
- Seria muito simples, após a plantação de tantas sementes daninhas ao longo dos séculos, resolver tudo com um simples trabalho religioso ou de magia, concorda, meu filho?
- Concordo, sim senhora!
O Mestre retomou a palavra:
- Então, a partir de agora, com esta consciência, saiba que a melhor das magias e a maior das caridades é sempre o diálogo franco e aberto com aquele irmão que procurá-lo pedindo auxílio. Quando perceber que se trata de uma questão cármica, trate de esclarecer quem a você procurou. E isto não impede que aplique uma magia ou trabalhe religiosamente para a sua purificação e abertura do seu mental para esta realidade. Mas, sempre deixe tudo isto muito claro!
- Assim farei, meu senhor e minha senhora!
 A Cabocla falou:
- Nada impede também, meu filho, que em algum caso específico, lhe seja encaminhada pela Lei, uma pessoa que deva ter ali, através do seu trabalho, seu carma esgotado. Mas, num caso como este, não será você, seu trabalho religioso ou magístico que estará esgotando tal carma. Você, com seu trabalho, estará sendo usado como instrumento apenas para esgotar o carma de uma pessoa que se reformou intimamente, conscientizou-se e optou por mudar seu caminho. Compreende-me?
- Perfeitamente, minha senhora!
Sorrindo, o Mestre falou:
- Então, já ciente e esclarecido,  pode voltar ao seu “mundo” e trabalhar de uma forma mais intensa na Magia Divina e na Umbanda Sagrada.
Zezinho acordou-se naquela manhã, sorridente, certo de que o carma e o livre arbítrio são instrumentos da Lei de Deus, usados em nosso benefício, como garantias divinas para a nossa evolução.
E que os esclarecimentos a ele dados nesta viagem astral, sirvam para que você reflita bastante, pois este é o nosso objetivo nesta estória.

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